22 de nov de 20174 min
Do Cabo Horn ao extremo norte da Colômbia, os olhos da América do Sul estarão direcionados para a Arena nesta quarta-feira. A partir das 21h45min, o Grêmio recebe o Lanús no primeiro jogo da final de uma Libertadores que faz de Porto Alegre a capital da América. Nada parece ser mais importante no continente na noite desta quarta-feira. E nada parece ser mais relevante na vida do Grêmio e de seus torcedores. A meta deles, exibida com graça e boa dose de ambição nas redes sociais, é acabar com o planeta. Pois isso precisa começar, necessariamente, por uma América tingida de azul.
Serão 90 minutos de aflição, de sofreguidão, de nervos à flor da pele. Não poderia ser diferente. O Grêmio parece carregar a Libertadores em seu DNA. Poucos clubes são tão sintonizados com essa competição como o Grêmio. Ele joga o Brasileirão e a Copa do Brasil porque levam à Libertadores.
Acrescente-se a isso o fato de que a conquista da América neste momento colocará o Grêmio em um outro patamar. Em todos os sentidos. Primeiro, o Tri significará ingressar numa galeria onde hoje, no Brasil, estão apenas São Paulo e Santos.
Segundo, porque, como adiantou nesta semana o presidente Romildo Bolzan Júnior, ao erguer a taça, o clube decola rumo à estabilidade financeira. Poderá atravessar 2018 em voo de cruzeiro para atingir, em 2019, a meta de se tornar autossustentável. E ser autossustentável no futebol significa investir em times competitivos sem contar os centavos na carteira. Significa também manter seus principais jogadores e assediar os melhores dos rivais. Um sonho. E está ali, dobrando a esquina onde está o Lanús.
Por fim, a conquista da Libertadores garante vaga no Mundial de Clubes em Abu Dhabi e a chance de cruzar antes do Natal com o Real Madrid, de Zidane, Cristiano Ronaldo e todas as suas estrelas que costumam acabar com o planeta com alguma frequência.
A Libertadores significa todos esses ganhos e pode ser servida com a pimenta da rivalidade local. Ser tri desempata a disputa doméstica com o Inter. Recarrega as baterias dos seus torcedores nos intermináveis debates em azul e vermelho. O tom dessa vantagem fica claro no discurso de um dos maiores ídolos destes 114 anos de vida do clube. Danrlei ganhou a Libertadores de 1995 e outras tantas taças com defesas inverossímeis e alma de torcedor. Hoje, livre dos pruridos dos tempos de atleta, ele resume o quanto vale ser tri:
Goleiro do Grêmio na conquista da Libertadores de 1995
— O título volta a deixar claro para todos quem manda no Rio Grande do Sul. Estaremos sempre um passo à frente: fomos os primeiros campeões da América e do mundo e, agora, seremos o primeiro a ser tri da Libertadores.
Danrlei esteve terça-feira na Arena. Entrou no vestiário, viu os uniformes dobrados à espera dos jogadores, respirou o ar carregado de ansiedade pela final e sentiu o coração acelerar. Revela que sentiu vontade de vestir a camiseta de goleiro, pegar um par de luvas de Grohe e subir para o campo.
— Tchê, fiquei com uma vontade de jogar, minha cabeça voltou lá em 1995, 1996, 1997. O coração começou a apertar e me perguntei: "Por que não congelei lá nos meus 20 e poucos para jogar essa final?" — conta.
Danrlei ainda era dúvida na Arena na noite de hoje. As atribuições de deputado federal o prendiam em Brasília. Esperava pela liberação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Se não houvesse votações de grandes projetos, viria. Na manga, ele guardava um último trunfo que tocaria Maia:
— E se fosse o teu Botafogo, o que tu farias?
Se Danrlei era dúvida, o superintendente Antônio Carlos Verardi está garantido na Arena. Embora preferisse fazer como seu irmão mais velho, Waldemar, de 88 anos, que em decisões como a desta noite costuma se fechar em um quarto escuro, proíbe rádios ligados em casa e só sai de lá duas horas depois, sempre com a mesma pergunta:
— Ganhamos?
Superintendente do Grêmio que esteve presente nas cinco finais de Libertadores do clube
Verardi está há 52 anos no Grêmio. Mas, pela importância estratégica desta Libertadores, sente a decisão desta quarta-feira como se fosse sua primeira. E olha que ele esteve em todas as principais conquistas do clube. Inclusive, nas conquistas da Libertadores e do Mundial em 1983 e do bi da América em 1995.
Pois esse senhor de 83 anos com uma história que se confunde com a do clube está nervoso como se fosse a primeira vez. Talvez a cobertura da mídia cause essa ansiedade. Afinal, o número de veículos triplicou, há um vai e vem de repórteres e cinegrafistas incessante no CT e na Arena nos últimos dias. A impressão de Verardi se confirma nos números de credenciamentos. Conforme a Aceg (Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos), 330 jornalistas estavam habilitados a cobrir a decisão.
— Esse jogo vai para o continente todo, é impossível mensurar o que isso significa para o clube. Em nenhuma das outras cinco finais houve uma cobertura da mídia nessa dimensão — espanta-se Verardi.
Fonte: cliciRBS